Angra em Porto Alegre: ‘Renascimento’
Por Eduardo Cadore
Passados dois anos sem atividades ao vivo, a capital gaúcha estava sedenta pelo retorno dos seus artistas favoritos. Tivemos já neste ano o show de despedida do Kiss em abril, poucos dias depois, em maio, mais uma histórica apresentação do Metallica, além de outros shows de menor porte, que aos poucos vão mostrando que, apesar da pandemia ainda estar aqui, é possível o público retornar aos shows.
Foi o que vimos no último sábado, dia 25 de junho, com o Bar Opinião lotado para assistir a mais uma apresentação do Angra. A diferença, agora, é que além de ser a primeira apresentação após o pior período da pandemia, também trouxe a turnê comemorativa de um álbum seminal para o Power Metal brasileiro: “Rebirth”, lançado em 2001 e que, ano passado, completou duas décadas, que só agora está sendo comemorado.
Antes da atração da noite, as bandas locais Mortticia e Rage in My Eyes fizeram boas introduções, esquentando o público, ao mesmo tempo que mostraram toda a competência e talento em fazer Heavy Metal de qualidade, já que apresentaram sempre composições próprias. A Rage in My Eyes, que antes era conhecida como Scelerata, merece uma menção especial, por focar nos trabalhos recentes e inclusive dedicando uma composição nova à memória de André Matos, que recentemente completou 3 anos de morte, mostrando-se muito à vontade no palco e colocando mais uma abertura de um grande nome no currículo.
Com alguns poucos minutos de atraso, ecoam pelos alto falantes a intro do clássico 2º álbum da banda, “Holy Land” (1996), prenúncio de que abririam o show com “Nothing to Say”, disparada uma das melhores composições daquela primeira fase da banda. O público, claro, respondeu à altura, com bastante agito. Na sequência, “Black Widow’s Web” do mais recente álbum, “Omni” (2018), fazendo esse contrapeso após o clássico da fase inicial mostrando uma das mais fortes composições da atual formação. Apesar disso, ainda não me acostumei a ouvir o Fabio Lione (vocal) tentando um gutural nas passagens que, na versão em estúdio, foram gravadas pela Alissa do Arch Enemy. Mas faz parte: ao vivo a banda precisa se virar e só por não usar playback já vale a menção.
Era chegada a parte principal do show: “Rebirth” tocado na íntegra. É evidente que a banda hoje é outra (apenas o guitarrista Rafael Bittencourt e o baixista Felipe Andreolli gravaram o disco), mas a técnica e carisma de todos os mais recentes integrantes é inquestionável. Bruno Valverde (bateria) e Marcelo Barbosa (guitarra), além dos músicos ao vivo nos teclados e percussão, completam esse competente time da atual formação.
Longe de comparações, a banda entregou feeling e técnica ao longo de todas as faixas. Destaque para as já clássicas “Nova Era”, “Rebirth” e “Running Alone’ (minha favorita e que fica excelente com o Lione), mas também foi especial ouvir músicas como “Judgment Day” e a própria “Acid Rain” e “Unholy Wars”, pouco tocadas desde 2001.
Realmente, como falou Rafael ao término da execução do disco na íntegra, “Rebirth” marcou o renascimento da banda após a saída de mais da metade da banda lá em 2000, assim também a atual turnê de comemoração celebra a volta aos palcos após a pandemia.
Feito o dever de casa, a banda partiu a tocar uma faixa de cada disco ainda não executado no show. Desnecessário mencionar o quanto a banda tem um repertório vasto e merece, sim, revisitar músicas que marcaram cada disco e época. Menciono aqui “The Curse of Nature” do “Aurora Consurgens” (2006) e “The Shadow Hunter”, do “Temple of Shadows” (2004), para mim o melhor disco da banda e meu favorito desde adolescente. Foi demais poder conferir a faixa, ainda que as notas altíssimas alcançadas na versão original estejam distantes da forma de cantar do Lione. Aqui, em um dos poucos momentos, bateu saudade do Edu Falaschi…
Também de um importante disco que marcou o fim da primeira era da banda, “Fireworks” (1998), disco que parece ser o preferido do Lione (que sempre menciona nos shows que gosta muito desse trabalho), e dele ressuscitaram “Metal Icarus”, faixa que era parte da primeira turnê do Rebirth e agora retorna majestosamente. Houve tempo ainda para a balada “Bleeding Heart” e “Upper Levels” do fraco “Secret Garden” (2014).
O show não podia encerrar sem o maior clássico de todos os tempos: “Carry on”. Mesmo com a entrada errada do Lione (por falta de retorno, pelo que se percebeu), não tirou a energia e o brilho dessa faixa do primordial “Angels Cry”. É, sem dúvidas, a faixa mais conhecida da banda em todo o mundo.
Assim se encerrou mais uma (especial) passagem do Angra, maior nome do Metal nacional (sempre lado a lado com o Sepultura) e que mais que celebrar um importante disco, celebrou os 30 anos de banda tocando uma faixa de cada álbum demonstrando a grandeza da discografia do grupo liderado por Rafael Bittencourt em todos esses anos, agora acompanhado de uma formação das mais técnicas e entrosadas possíveis.
Fotos por Eduardo Cadore
Um comentário
Baita. Queria ter ido…