The Sandman – Uma adaptação respeitosa. (Sem spoilers)
Por João Arthur – Johnarthie
Numa era do streaming onde a adaptação de revistas de quadrinhos para filmes e séries tem sido tão presente, com múltiplos lançamentos novos anualmente, era de se esperar que eventualmente Sandman, de Neil Gaiman, teria sua esperada, e temida vez. Esperada por ter sido uma obra muito influente e importante para uma saudosa geração de consumidores de quadrinhos, mas bastante temida, pois nenhuma ‘adaptação’ existe sem sofrer ‘adaptações’. Entretanto, a obra final finalmente chegou, e apesar das circunstâncias, foi muito bem vinda pela maior parte do público, mesmo com suas falhas.
Produzida pela DC Entertainment em conjunto com a Warner Bros., a série foi desenvolvida por David S. Goyer – roteirista de O Cavaleiro das Trevas, Blade, Homem de Aço, etc, e Allan Heinberg – roteirista de Grey’s Anatomy, Sex and the City, The O.C., Mulher Maravilha, etc. A idéia de se fazer um filme/série baseado em Sandman existiu desde 1991. Vários roteiros foram escritos e então recusados por Gaiman, que preferiria “não ver nenhum filme de Sandman, do que ver um filme ruim de Sandman”, mas ele também dizia que “A hora de fazer um filme sobre Sadman está chegando. Nós precisamos de alguém com a mesma obsessão com o material original que Peter Jackson tinha sobre Senhor dos Anéis, ou como Sam Riami tinha com Homem-Aranha”. Finalmente com a obra em mãos agora, percebemos o quão dedicado estava Gaiman a proteger o legado de Sandman e seu universo fantástico.
A série é fiel aos eventos e sua ordem, como contados nos próprios quadrinhos originais, tendo alterado apenas elementos que não afetam de maneira alguma a história. A fidelidade chega a ser tanta, que há momentos na série cujas cenas podem ser comparadas lado a lado com o material original, e pode-se notar que as falas, e até mesmo o enquadramento, foram montados da mesma maneira como eram nos quadrinhos. Para muitos, isso foi um problema, pois apesar de ser interessante poder rever toda a obra em uma mídia diferente, e com ótimos atores interpretando personagens desafiadores, a série evita o tempo inteiro de tomar decisões criativas para enriquecer a experiência.
É fácil de se entender o por quê da série ter demorado tanto para ter sido produzida, dada a mistura de cenários, abrangendo do mundo material onde vivemos acordados, ao mundo dos sonhos, onde todas formas podem existir, como cenários impossíveis, sonhos e pesadelos como seres antropomórficos, e até mesmo demônios, recriar os visuais originais em live action seria um enorme desafio. Apenas por existir, The Sandman já alcançou o que parecia inalcançável, mas algo parece ter sido perdido na tradução das páginas para a tela.
Ainda assim, os espectadores podem ter um gostinho do mundo fantástico dos sonhos, e se a série continuar para uma segunda temporada, e talvez mais além, quem sabe teremos mais experimentações com o surreal. Uma das coisas que são tão excepcionais sobre os quadrinhos é quão variadas e inesperadas podem ser as histórias, e como elas realmente encarnam um ethos onírico com infinitas possibilidades. Se a série receber a luz verde da Netflix para uma segunda temporada, o que é muito provável, dada a ótima recepção da série pelos críticos, ainda há esperanças para a série alcançar patamares ainda mais altos, afinal de contas, o próprio Gaiman afirma que a introdução de Sandman nos trabalhos originais foi imperfeita.
A primeira temporada de Sandman pode ter sido uma ótima obra com defeitos que a fazem imperfeita, mas ela também é um lembrete do por quê que tantas pessoas já tentaram adaptar esta obra “infilmável” antes. Alguns obstáculos visuais podem ser muito difíceis de se superar, mas talvez a primeira temporada tenha plantado as sementes de uma série muito mais grandiosa e ousada por vir.
Fontes:
https://winteriscoming.net/2021/07/30/what-happened-joseph-gordon-levitt-sandman-movie/
https://www.whats-on-netflix.com/news/netflixs-the-sandman-everything-we-know-so-far-07-2022/
https://en.wikipedia.org/wiki/David_S._Goyer
https://en.wikipedia.org/wiki/Allan_Heinberg