Iron Maiden em Curitiba
Por Eduardo Cadore
A capital paranaense, que não via a banda desde a turnê de 2013, foi agraciada com a primeira apresentação após o período de férias, com a sua Legacy of the Beast 2022. Ao contrário de outras turnês, esta segunda parte só passará pelo Brasil, deixando o público argentino e chileno decepcionados. Não à toa encontramos com enorme facilidade pessoas de vários países da américa do sul.
O show ocorreu dia 27 de agosto na lendária Pedreira Paulo Leminski, palco que desde 2008 não recebia a banda. Aliás, a música “The Clairvoyant” que está no DVD Flight 666 foi gravada nesse local. O público estava ansioso, e já nas primeiras horas da manhã as filas dobravam quarteirões, mostrando que realmente todos os 25 mil ingressos foram vendidos e teríamos a Pedreira cheia novamente.
Impossível não mencionar a beleza da cidade de Curitiba e o excelente local para shows. Curiosamente, apesar de no fim de agosto ser frio no sul, as temperaturas estavam elevadas, marcando mais de 25º, sem chuva e sem frio, na hora do show.
Outro ponto que merece menção é a parceria e amizade feitas na fila. Cheguei na capital dois dias antes do show, e pude passar a conhecer pontos dedicados ao Maiden, como o bar Aces High e a cervejaria Bodebrown, local em que, na quarta-feira antes do show, recebeu a visita do vocalista Bruce Dickinson.
A cidade toda respirava Maiden, em qualquer bar que íamos encontrávamos a cerveja Trooper e referências à banda (até em um dos shopping da cidade era possível encontrar cerveja, copos e utensílios do Maiden). Foi certamente a cidade mais Maiden que já pude ver.
Os portões abriram às 17h, com a banda sueca Avatar iniciando seu show por volta das 19:45. Pouco conhecida no Brasil, certamente viu como uma excelente oportunidade de entrar no mercado brasileiro abrindo 3 dos 4 shows da banda no país (Avatar não foi selecionado para o Rock in Rio).
Durante as 7 canções, o vocalista não exitava em agradecer pela estreia em terras brasileiras, buscando constante interação com o público. Aliás, a banda, que tem um visual cênico interessante, também mostrava estar se divertindo e felizes pela oportunidade. A resposta do público, entretanto, foi mais amena, mas longe de ser negativa.
Quando anunciada, muitos, inclusive eu, torceram o nariz, já que a banda apresenta um som mais pesado, com algo de Death Metal Melódico com Industrial, entretanto, em cima do palco, a entrega de um show envolvente e muito bem executado, causaram melhores impressões. Evidentemente que todos estávamos lá pelo Maiden, mas felizmente não houve coro pedindo a banda principal durante a abertura, o que sempre é desrespeitoso com quem está ali mostrando uma pitada do trabalho.
Em suma, Avatar fez uma ótima abertura, deixou seu recado e certamente causou melhores impressões do que se esperava diante de um público composto por fãs que geralmente só tem ouvidos para os britânicos.
A ansiedade, que era generalizada, aumentava a cada minuto para a chegada do Iron Maiden. No telão, com uns minutos de antecedência, a tradicional abertura em vídeo com “Transilvania” já serviu para avisar que o show estava por começar. Mas foi com “Doctor Doctor” (UFO) nas caixas que o público começa a chamar a banda. Todo mundo que já foi em um show da Donzela sabe que após esse som inicia a apresentação. E que apresentação!
O Iron Maiden subiu ao palco quase sem nenhum atraso às 21 horas, desfilando, de cara, três faixas do seu novo trabalho, “Senjutsu” (2021). A sequência foi a faixa-título (com a participação do “Eddie Samurai”), “Stratego” e “The Writing on the Wall”. Havia grande expectativa de como as novas músicas iriam soar ao vivo. Já tínhamos visto na turnê Europeia, mas lá, in loco, a experiência é diferente e realmente a banda entregou versões superiores às de estúdio. Considero, inclusive, que o solo final de “The Writing on the Wall” magistralmente executada por Adrian Smith está dentre meus favoritos da carreira da banda. Indescritível a emoção e sensibilidade que o guitarrista tira nesse momento.
Terminada a trinca e com um Bruce Dickinson de poucas palavras, partimos para uma jornada na história da banda. Após uma rápida troca de todo o cenário, “Revelations” (do “Piece of Mind” de 1983) ecoou, trazendo sons do Apocalipse, numa faixa que soa muito melhor ao vivo, pela interação com o público. É curioso como uma faixa por anos esquecida pela banda, retornou com força e permanece em quase todas as turnês de 2008 para cá.
Apesar da turnê de 2022 ter o mesmo nome e proposta da de 2019, várias foram as trocas no setlist, como, por exemplo, a retirada de faixas como “The Wicker Man”, “For the Greater Good of God” e “Where Eagles Dare”. A sequência em Curitiba trouxe “Blood Brothers” (do disco “Brave New World” de 2000), um momento emocional do show e não foi difícil ver pessoas do público chorando nessa canção.
Remetendo a fase anos 90, “Sign of the Cross” (do “X Factor” de 1995) foi muito bem acolhida, mostrando que os discos da fase com os vocais de Blaze Bayley envelheceram bem, e só os fãs mais fanáticos pelos anos 80 ainda torcem o nariz para as várias excelentes canções dessa fase. Nesta faixa, que é para mim o maior épico da banda, foi em 2019 e continua sendo em 2022 um dos pontos altos da apresentação. Além da música trazer vários elementos diversos, com sua explosão em ritmo rápido e fogos de artifício no palco, vemos Bruce Dickinson caracterizado de monge, com sua cruz em punho.
Mal tínhamos saído desse ápice, para seguirmos com a faixa carro chefe da turnê anterior, “Flight of Icarus” (mais uma do “Piece of Mind”) como gigante ícaro inflável, Dickinson com seus lança chamas e a banda toda entregando uma experiência sensacional. Menção especial ao Nicko McBrain (bateria), que mantém o ritmo nessa faixa (o que não aconteceu em algumas outras, como veremos). Inclusive na parte final, em que a bateria fica mais rápida e intensa, até o Adrian Smith brincou reproduzindo um “air drums” em referência às batidas de Nicko na caixa. Ponto alto da turnê de 2019 e que novamente se destaca.
A partir daí, entramos na parte dos clássicos absolutos. Aqui, “Fear of the Dark” (do álbum homônimo de 1992), “Hallowed Be Thy Name” e “The Number of the Beast” (ambas do disco “The Number of the Beast” de 1982) e “Iron Maiden” (aqui com o “Big Eddie” no fundo, um dos mais detalhistas de toda carreira da banda) não trouxeram nada de novo, mas são clássicos absolutos, cantados a plenos pulmões até por aqueles que já viram essa faixas ao vivo muitas vezes. Steve Harris (baixo) e Dave Murray (guitarra), membros mais antigos, seguem firmes e fortes atravessando as décadas à frente do Maiden.
Vale mencionar que a partir desse ponto, foi notável uma redução na velocidade das músicas. Em “Fear of the Dark” foi nítido. “Iron Maiden” também, até contando com uma entrada errada de Bruce, que canta uma estrofe toda fora do tempo, merecendo umas olhadas incisivas do chefe Steve Harris, sendo que ao término da música este foi até o vocalista, certamente chamou a atenção. Nada que não ocorra em qualquer banda que toca ao vivo.
Inevitável, devido a idade da banda. Para se ter uma ideia, o baterista Nicko McBrain já passou dos 70 anos, sendo os demais músicos todos acima de 60 anos. Natural, compreensível e não chega a ser algo ruim que a banda se mantenha na ativa nestes últimos anos de carreira, mantendo a qualidade dos shows, ainda que em alguns momentos precise frear um pouco.
Saída e volta para o primeiro Bis (sim, agora são dois). A banda retorna quebrando tudo com “The Trooper” (a terceira do disco de 1983) que traz toda a encenação Bruce X Eddie, que além de divertida, mostra como Bruce tem liberdade para mostrar outros “dotes” artísticos. Desnecessário dizer que é aquele som que enche o estádio com a participação do público.
Na sequência a bela e paulada “The Clansman” (do “Virtual XI”, de 1998).
Particularmente, gosto muito dessa fase e o show de 1998, durante a turnê do Virtual XI que passou justamente naquele lugar, foi um dos shows da banda que mais assisti online. Então, aquele momento de fã: estar no mesmo local, vendo a banda (apesar de outra formação) tocar a música de um disco que está longe de ser um clássico, mas marcou minha trajetória inicial de fã da banda (fiz questão de ir no show com a camiseta desse disco), foi especial e jamais será esquecido.
Seguiu-se “Run to the Hills” (terceira do disco de 1982), notoriamente mais lenta, mas ainda funcionando bem ao vivo (com muitos fogos e explosões) e a banda saiu do palco novamente, para a execução no telão da famosa fala de Winston Churchill, então Primeiro Ministro britânico, que precede “Aces High” (do “Powerslave” de 1984).
É uma das grandes surpresas desta turnê 2022 o fechamento do show ser com uma faixa que quase sempre era tocada no início ou na volta do Bis. E ficou muito legal terminar o show com uma das canções mais enérgicas da banda.
Menção também ao papel de Janick Gers (guitarra) que segurou muitos dos solos (inclusive com seus malabarismos na guitarra, apesar da idade).
Evidente que os anos já mostram efeitos. Neste meu 8º show da Donzela, fica evidente que algo da velocidade e performance, aqui e acolá, está se perdendo, porém, em contrapartida, a banda tem caprichado muito mais nos efeitos, no palco e nesse contexto todo (muito diferente do meu primeiro show, lá em 2008, em que não tinha quase nada no palco no Gigantinho em Porto Alegre).
Um ótimo pontapé para a turnê americana (daqui, partem pro México, depois EUA e Canadá) e uma exaltação de algumas das fases mais importantes da banda, deixando 25 mil pessoas mais que satisfeitas e marcando em sua memória afetiva essa apresentação na bela Curitiba. Up the Irons!
Set List Avatar
1 – Hail the Apocalypse
2 – Colossus
3 – Paint Me Red
4 – Bloody Angel
5 – The Eagle Has Landed
6 – Let It Burn
7 – Smells Like a Freakshow
Set List Iron Maiden
1 – Senjutsu
2 – Stratego
3 – The Writing on the Wall
4 – Revelations
5 – Blood Brothers
6 – Sign of the Cross
7 – Flight of Icarus
8 – Fear of the Dark
9 – Hallowed Be Thy Name
10 – The Number of the Beast
11 – Iron Maiden
Bis:
12 – The Trooper
13 – The Clansman
14 – Run to the Hills
Bis:
15 – Aces High
Registros do show, feitos pelo colunista Eduardo Cadore:
Registros do show, feitos pelo colunista Elias Scopel Liebl: