Antichrist Reborn – The Troops Of Doom
Por Leandro Duarte
Na corrida dos lançamentos de 2022, apostei muito no primeiro longa dos brasileiros de THE TROOPS OF DOOM. Imaginei-os cruzando a linha de chegada em velocidade supersônica, deixando seus adversários para morder o pó do Thrash/Death com amargura, mas resignação, diante da óbvia superioridade de um supergrupo que estava predestinado a acumular vitórias.
Dois EPs me levaram a apostar alto nesse grupo de Belo Horizonte, uma montagem Frankenstein de figuras da cena local, com o Jairo “Tormentor” Guedz, lendário ex-guitarrista do SEPULTURA lá nos primórdios da banda, e co-responsável pelo som bárbaro de Bestial Devastation e Morbid Visions. Ao adotar por princípio o clássico do Sepultura como nome de seu novo projeto, Jairo poderia se contentar com uma nostalgia fácil, e nos dar uma banda-tributo, ou um substituto pouco crível para seu passado glorioso. Felizmente, nada disso aconteceu. E depois de dois tiros de advertência, os EPs The Rise Of Heresy (2020) e o The Absence of Light (2021), Antichrist Reborn (2022) elimina qualquer vestígio de desconfiança por parte dos mais céticos.
THE TROOPS OF DOOM, além de Jairo, repousa sobre os ombros sólidos de Alex Kafer (vocal/baixo, ENTERRO, EXPLICIT HATE, ex-NECROMANCER), Alexandre Oliveira (bateria, SOUTHERN BLACKLIST, RAISING CONVICTION) e Marcelo Vasco (guitarra, PATRIA, MYSTERIIS e designer gráfico para SLAYER, KREATOR, MACHINE HEAD, SOULFLY ou HATEBREED). Um quarteto com um currículo impressionante, capaz de lutar contra as cobras mais venenosas dos anos 80, e que hoje lutam para se renovar.
Sabemos que a nostalgia vende, mas a de grandes nomes como DESTRUCTION, KREATOR, TESTAMENT e outras é tão padronizada que é difícil acreditar que a verdadeira brutalidade possa sobreviver aos anos de combate. Parece que THE TROOPS OF DOOM vai contra essa afirmação, entregando-nos um dos álbuns mais emocionantes do primeiro semestre de 2022.
Selvagem, sólido, poderoso, perverso, cruel, bestial, Antichrist Reborn vem para afirmar toda a brutalidade sul-americana e conquistar a totalmente merecida credibilidade internacional. Mixado pelo monstro Peter Tägtgren no mítico The Abyss Studio, e masterizado por Jonas Kjellgren no Blacklounge Studio na Suécia, este primeiro álbum é um matador ininterrupto que tem um prazer malicioso em variar as atmosferas para modular a temperatura, e vai do insuportável calor na fornalha que queima a carne.
Redundância, velocidade, vontade de lutar, animosidade, todos os sentimentos passam por isso, e este primeiro disco da banda poderá se tornará um verdadeiro modelo do gênero retrô/vintage/nostálgico e, ainda, com um toque contemporâneo. “Pray Into The Abyss”, por exemplo, percebo que homenageia os mestres do Thrash das décadas passadas. Haveria aí uma vontade real de atualizar a música antiga, mas impulsionada por uma produção atualizada e galvanizada por composições realmente ricas.
A voz muito surda e raspada de Alex Kafer, do metrônomo nuclear Alexandre Oliveira e da dupla de riffers do inferno Jairo Guedz/Marcelo Vasco fazem deste Anticristo Renascido o verdadeiro advento de Damien, o anticristo da lenda, que veio à terra para reclamar o que lhe era devido e deixar a terra com fogo e sangue.
THE TROOPS OF DOOM fez com que eu recuperasse o meu interesse por essa vertente do metal e promete ser o grande futuro da cena Death/Thrash a médio/longo prazo.
Aguardem, em breve entrevista com o líder da The Troops Of Doom, Jairo Guedz.