Fughetti Luz: calou-se a primeira voz gravada do rock gaúcho

Fughetti Luz: calou-se a primeira voz gravada do rock gaúcho

Por Luis Fernando R. Borges – Coxa

Esta sexta-feira 14 ficará marcada como a data do falecimento de Marco Antônio de Figueiredo Luz, mais conhecido como Fughetti, que nos deixou aos 76 anos. Notícias a respeito da morte dele é o que não falta. Da mesma forma, não faltam informações sobre sua vida. Mesmo nunca tendo sido nenhuma celebridade, longe disso. Ainda assim, muita coisa já foi dita e se pode dizer sobre ele. Mas vou me restringir a explicar o subtítulo deste texto.

Sim, os dois primeiros discos de rock gravados por bandas gaúchas têm como vocalista Fughetti Luz. Só isso.

Hoje em dia é muito fácil gravar um disco. Tudo pode ser resolvido com um computador, ou quem sabe até mesmo com um celular. Não precisa de estúdio. Não precisa nem de disco. 

E mesmo em tempos ainda analógicos já existia o disco independente, gravado sem depender de grandes gravadoras, fenômeno iniciado em fins dos anos 1970. E, nesse mesmo período, as próprias grandes gravadoras já haviam se agigantado a ponto de abarcarem artistas de diversos estados e regiões do país. E esse agigantamento foi potencializado pelo sucesso comercial do rock brasileiro a partir do início da década de 1980.

Isso tudo explica, entre outras coisas, o surgimento daquilo que hoje chamamos de “rock gaúcho”, quase enquanto estilo musical, representado por bandas como TNT e Cascavelletes, que gravaram seus discos e fizeram sucesso, assim como tantas outras, inclusive aquelas que chegaram a ponto de se tornarem “nacionais”, como o Nenhum de Nós e sobretudo os Engenheiros do Hawaii.

Mas antes disso as coisas não eram nada fáceis para quem estava longe demais das capitais. Só existiam as grandes gravadoras, que não eram tão grandes assim, sem que houvesse a opção do disco independente e muito menos as facilidades do digital. Sem falar que o rock brasileiro ainda não era tão popular, comercialmente falando. Era muito difícil uma banda de rock distante do eixo Rio-São Paulo conseguir transpor sua música para o vinil.

E as duas primeiras que conseguiram romper essa barreira tinham Fughetti Luz como vocalista. Na verdade, são essencialmente a mesma banda, apenas com nomes diferentes. Além de Fughetti, o núcleo-base das bandas contava com os irmãos Mimi e Marcos Lessa na guitarra e no baixo e com Edinho Espíndola na bateria. Cada uma se limitou a um único disco: o Liverpool gravou “Por Favor Sucesso” em 1969, pelo selo Equipe, e o Bixo da Seda soltou seu lançamento homônimo em 1976, pela gravadora Continental.

Apesar de contarem basicamente com os mesmos integrantes, são bandas bem diferentes entre si, e essas diferenças não se limitam aos nomes, se estendendo até mesmo à voz do Fughetti Luz. O Liverpool, apesar do nome de inspiração óbvia na terra natal dos Beatles, conseguiu forjar um som bem original e elaborado, com instrumental e harmonias sofisticadas, com referências do rock de seus ídolos e também de elementos da música brasileira, mas sem deixar de ser um disco de rock. Já o Bixo da Seda, com seu nome de inspiração muito mais vegetal do que animal, é uma típica banda de rock’n’roll, com claras influências dos Rolling Stones e do hard rock da época. O som é bem mais pesado e distorcido do que o do Liverpool, e o próprio Fughetti Luz abandona a suavidade dos vocais empregados na banda anterior para colocar bem mais drive em sua garganta.

Apesar de também ter durado apenas um único disco, o Bixo da Seda de certa forma teve continuidade em bandas dos anos 1980 em que Fughetti Luz atuava apenas como compositor, como foi o caso do Taranatiriça e da Bandaliera (ambas lideradas pelo vocalista Alemão Ronaldo), que lançaram algumas de suas composições mais célebres, a exemplo de “Rockinho”, “Nosso Lado Animal” e “Campo Minado”. Essas bandas foram quase extensões do Bixo da Seda, em uma época em que gravar discos de rock não era mais novidade para bandas gaúchas. Bem diferente do terreno inóspito que Fughetti Luz e seus companheiros de bandas tiveram que desbravar.

E o resultado desse desbravamento é a gravação desses dois primeiros discos do rock gaúcho. Que podem ser ouvidos através dos links abaixo, graças ao terreno virtual e bem menos inóspito da internet. Que nos possibilita seguir ouvindo a voz de Fughetti Luz. Ou melhor, as vozes.

Liverpool – Por Favor Sucesso (1969): https://www.youtube.com/watch?v=U3Z2mPzBhZc Bixo da Seda (1976): https://www.youtube.com/watch?v=aLch2w_M2wg

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