Um pouco da vida de Mozart

Um pouco da vida de Mozart

Por Eduardo Coutinho Scalabrin

…viver tantos anos quanto seja necessário,

até não poder fazer absolutamente nada

novo em música… (Mozart)

Ao se buscar livros biográficos que tratem da obra mais que da vida do biografado está-se diante de raridades, raras exceções são Isaac Deutscher em sua monumental trilogia sobre Trotsky, e pode-se elencar neste rol, sem receio, Jean e Brigitte Massin com sua obra “Wolfgang Amadeus Mozart” (Ediciones Turner), sem deixar de mencionar que este livro está dividido em duas partes, uma focando na vida e outra na obra em si deste gênio da humanidade! Ressaltando que a parte concernente à vida não é uma relação de fatos situados cronologicamente, mas sim um apanhado do desenvolvimento criativo do gênio de Salzburgo!

Nascido nesta cidade em 27 de janeiro de 1756 como Johannes-Chrysostomus-Wolfgang-Theophilus Mozart, desde cedo dá mostras de genialidade musical. Sua primeira composição data de seus cinco anos de idade e sua leitura de partituras precede sua alfabetização, sendo grande responsável por isto seu pai, Leopold, que detinha uma apurada pedagogia em se tratando de música, escrevera um livro muito conceituado em sua época sobre aprendizado de instrumentos musicais. Também pode-se atribuir a este último o uso por Wofgang de vários temas para uma peça musical, pois seu pai o fazia ligar distintos temas para assim ele os harmonizar em um todo… E que todo! Peças como as Sinfonias 39 (K. 543), 40 (K. 550) e 41 Júpiter (K. 551) são uma mostra disto, sem deixar de mencionar que Wolfgang nunca as escutou, pois ele estava sendo tão desprezado pela sociedade vienense que não houve orquestra que as executasse!

Desprezo este fruto de suas posições declaradamente revolucionárias em seu contexto histórico, ou seja, em um primeiro momento tem-se um músico que não quer submeter-se aos Arcebispos e sim ganhar seu dinheiro de forma independente e autônoma, lembrando que a Áustria de então é dividida por Arcebispados, rompimento este que lhe custará caro já que sofrerá o boicote dos demais Arcebispos. Outra postura sua declaradamente revolucionária é sua precoce adesão à Maçonaria, sendo que nesta opta pela seção de viés racionalista, que por sua vez na França apoiava os Iluministas, movimento conhecidamente antimonárquico… Todos estes elementos estão refletidos em sua obra, de forma clara está o viés maçônico na ópera “A Flauta Mágica” (Die Zauberflöte – K. 620) e nas sinfonias citadas está o seu caráter autônomo, pois as mesmas contém uma grande carga de subjetividade, rompendo em muitos aspectos com a estética Classicista, então em vigor na música.

Classicismo este que tem em Mozart seu maior representante e seu coveiro, pois diante das implementações feitas por este tem-se a abertura para um movimento estético de grande envergadura, o Romantismo, ou seja, sem Mozart não teríamos o Beethoven com toda sua abertura subjetiva e sua postura independente! Grande contribuição de Mozart também pode-se citar o emprego em suas óperas de personagens mundanos e não divinos, pois antes deste a estética Clássica fazia uso única e exclusivamente de personagens míticas. Tem-se na ópera “As Bodas de Fígaro” (Le nozze di Figaro – K. 492) um plantel de personagens do dia a dia, sendo esta considerada a maior ópera de todos os tempos e ficando em oitavo lugar a “Don Giovanni” (K. 527) segundo a BBC Music Magazine. Segundo uma interpretação psicanalítica, esta última tem no fantasma do Comendador o próprio “fantasma” do pai do compositor, que havia não muito tempo falecido. Já Beethoven classificou a ópera “A Flauta Mágica” (Die Zauberflöte – K. 620) como a mais rica musicalmente, devido a sua diversidade de estilos, algo que anos depois seria ratificado por Alfred Einstein.

Algo que salta aos olhos ao se ler a biografia de Mozart é sua personalidade altamente generosa, sua espirituosidade, daí para o sorriso de Mozart no filme “Amadeus” (Miloš Forman – 1984) ser um pulinho, sendo que nesta biografia supracitada destaca-se o viés que poucos, somente presente nos sérios biógrafos, salientam, alguém nada infantil mas sim compromissado tanto com a arte quanto com a política. Compromisso este último que causou até mesmo a desconfiança do próprio Mozart em ter sido envenenado em virtude de suas posições antimonárquicas por seu colega Salieri, que no filme de Forman acredita que a obra mozartiana tenha sido ditada por Deus, pois os seus manuscritos não apresentavam correções e sim páginas e páginas passadas à limpo direto da memória, como se tivessem sido ditadas literalmente! Acredita-se que quem tenha ditado isso tudo e proporcionado uma obra tão ímpar para a humanidade como um todo foi o Eudaemon (εὐδαίμων) que habitava Mozart, o mesmo que habitava Sócrates e que habita todos, não esquecendo que felicidade em grego é Eudaimonia (εὐδαιμονία)…

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