Glenn Hughes – A voz do Rock novamente em Porto Alegre
Por Eduardo Cadore
Pare e pense: quantos músicos do Rock conseguem praticamente lotar duas vezes seguidas, com a mesma turnê, na mesma cidade e casa de shows?
Um deles é Glenn Hughes, uma das figuras mais icônicas do Rock pesado mundial. Um músico que entrou para a história dos gigantes com sua passagem pelo Deep Purple, mas que já desde muito novo com o Trapeze mostrava ao mundo que era especial e não estava no mundo à passeio.
Na noite de 7 de novembro, Porto Alegre recebeu-o novamente, com a turnê que lá fora havia sido batizada em referência ao aniversário de 50 anos do disco “Burn” (1974) do Deep Purple, mas que aqui na América do Sul voltou a ser sobre toda a trajetória dele com a lendária banda, incluindo músicas dos três discos (Burn, Stormbringer e Come Taste the Band) do setlist fazer referência ao clássico California Jam, recebendo o nome de “Classic Deep Purple Live”, mas ainda assim a maior parte do set dedicado ao disco de 1974 (inclusive a loja oficial do evento vendia camiseta celebrativa do álbum).
Acompanhado de excelentes músicos, com destaque para o guitarrista Soren Andersen que, conforme Hughes mesmo disse no show, o acompanha a mais de 14 anos, a banda executou clássicos como “Stormbringer” (que abriu o show magistralmente), “Might Just Take You Life” (que seguiu incendiando o público), “Sail Away”, “Fool no One” (com direito a solos e Medley), Glenn Hughes mostrou a sua aura de lenda viva do Rock, aquela energia e força que só os grandes emanam ao vivo ainda hoje.
Vale menção também ao solo do baterista Ash Sheehan que emendou a única faixa executada que não é dessa fase, “The Mule”, de 1969, mas que se popularizou muito nas apresentações da banda mesmo depois. Talvez após Hughes, era o mais empolgado no palco.
Num universo da música pesada em que estamos a cada ano dando adeus aos gigantes, foi enorme a satisfação de ver mais uma apresentação que não foi muito diferente da de 2019 (que marcou para mim como sendo a primeira vez que o vi ao vivo), passeou pelas grandes clássicos e aqueles sons que só quem curte a fase MK III/IV pira ao ouvir.
Nem mesmo os problemas no som (notáveis nas duas primeiras músicas, com inclusive falhas no microfone que prejudicou demais uma das músicas) e o resfriado de Hughes comprometeram a apresentação. Para onde olhávamos, só víamos olhares de admiração e gente balançando as cabeças no ritmo das músicas.
Hughes é um show à parte. Não bastasse sua voz única, seu domínio no baixo, com direito a algumas improvisações, nos produziu o deleite que teríamos se pudéssemos voltar no tempo, aos anos 70.
Em mais de um momento, ao se dirigir ao público, pediu desculpas pela sua saúde prejudicada e por não poder dar seu 100%, agradecendo o apoio dos fãs que cantaram todas as faixas. Vale mencionar que houve risco de cancelamento, mas Hughes manteve a apresentação, ainda que realmente fosse notório que não estava na sua melhor forma. Tanto é que o show seguinte em Curitiba foi cancelado (o guitarrista Soren também foi positivado para COVID).
O ápice do show que seria com a clássica “Burn” na volta do bis ficou a cargo do público: Hughes não cantou, com visível desgaste, mas executou a faixa sempre, como em todo o show, com sorrisos, agradecimentos, entregando palhetas nas mãos do público. Infelizmente não tivemos “Highway Star” que em que pese não ser faixa gravada na época de Glenn Hughes, vinha fechando os shows desta e da turnê anterior.
Apesar disso, o público acolheu perfeitamente e saiu satisfeito dessa nova demonstração da grandeza e magistral história viva do Rock que é Glenn Hughes, ainda que sua trajetória jamais se resuma ao Deep Purple, como ele mesmo disse no intervalo de uma das canções, ele se sente na missão de honrar essa fase. Inclusive revelou que convidou seu colega vocalista David Coverdale (Whitesnake) para fazer a turnê, mas que este preferiu seguir outros planos. Também não faltou menção ao colega e amigo falecido Tommy Bolin, com um dos pontos altos a execução da faixa “Gettin’ tighter”, composição do guitarrista e que tem uma levada groove e funk sensacional, que só essa fase do Purple sabia fazer. essa também foi a única faixa do subestimado “Come Taste the Band” de 1975 que foi o último trabalho da formação já sem Blackmore (após, com o retorno, Hughes e Coverdale não estavam mais, além de Bolin, claro).
Um show para guardar na memória e torcer que ainda restam anos de saúde para Hughes quem sabe retornar, inclusive com algum dos seus trabalhos mais recentes, já que por onde passou produz grandes discos. Se depender de mim, este não foi o último show.
Setlist:
01 – Stormbringer
02- Might Just Take Your Life
03 – Sail Away
04 – You Fool No One / High Ball Shooter / Drum Solo / You Fool No One
05 – Mistreated
06 – Gettin’ Tighter
07 – You Keep On Moving
08 – Burn (Bis)
Fotos por: Eduardo Cadore