Duas décadas de Na Mira do Rock!
Foto: Paulo Oliveira
Por Eduardo Cadore
O ano de 2024 pode não estar oferecendo grandes eventos e shows nestes primeiros meses, mas trouxe a edição de 20° aniversário do programa Na Mira do Rock e só por isso este primeiro semestre já valeu a pena.
O clube Harmonia de Frederico Westphalen/RS voltou, como na primeira edição, a receber o Na Mira do Rock dia 06 de abril de 2024.
Produzido pela Fuga Produções do emblemático Fuga, apresentador do programa Na Mira do Rock há duas décadas no ar (rádio e internet), a nova edição contou com a parceria do site Arena Heavy, que auxiliou na viabilidade desse evento, unindo forças em prol de manter acesa a chama do festival.
Ao contrário da edição anterior (muito boa também, diga-se de passagem), a deste ano trouxe muito Metal, com ênfase no Heavy, Power/Prog e Thrash Metal.
A primeira banda a aquecer os motores da galera que compareceu em bom número foi a Phornax. Vinda da capital gaúcha, mostrou suas próprias composições, todas muito bem construídas e executadas pelo quarteto formado por Cristiano Poschi nos vocais principais, Maurício Dariva na bateria, Deivid Moraes na guitarra e Uesti Papee no baixo.
No palco, sem muitas delongas, incursionam uma faixa atrás da outra, chamando a galera que, timidamente, foi se aproximando e na metade do setlist já estava cativada, com os braços em riste e acompanhando a banda. Além de mostrar composições conhecidas, há anos no repertório, também brindaram os presentes com duas faixas novas “Between Fear and Hope” e “A Matter of Time” que estarão no próximo lançamento. A Phornax está retornando com tudo e se seguir nessa toada, vamos ouvir falar muito deles, pois além da experiência de anos como banda, também seguirão compondo e apresentando novos materiais.
A sequência trouxe as pratas da casa Datavenia. Formada por Guilherme Busatto Mello na guitarra e vocais, Guilherme Argenta no baixo e vocais e Eduardo Pegoraro na bateria. Apesar de excepcionalmente estar como trio (o guita Gabriel Quatrin teve de se ausentar por questões de saúde), entregou muito bem seu Metal mais pesado.
Aqui intercalando entre composições próprias (incendiando com a primeira “Welcome to the underground”) com covers mais do que bem vindos, com músicas de bandas como Metallica (“Sad but true” botou mais fogo no público, “Whiplash” mais pra 2ª parte do show também merece menção), Slipknot com “Psychosocial” (pra mim uma surpresa, as bandas da minha região raramente tocam), Slayer (“Quem aqui gosta de Slayer?”, perguntou o vocalista xxx) com “Bloodline” (não é dos maiores clássicos, mas pega muito bem ao vivo e é uma das minhas favoritas da banda estadunidense) e, claro, fechando com a emblemática “Cowboys from hell” (Pantera). Nesta hora só se via cabelos e cabeças para cima e para baixo. Baita fechamento. Referência também às demais faixas das demais bandas homenageadas, que você confere a lista no fim da matéria.
Era chegada a hora de uma dose cavalar de Iron Maiden com a atração principal da noite, Bruno Sutter. O eterno vocal do Massacration tem rodado o país com seu projeto “Bruno Sutter executa Iron Maiden”, sendo minha 2º oportunidade de assisti-lo, desta feita suportado pela galera da muito experiente Best of the Beast de Ijuí/RS.
Entre uma ou duas faixas e outras, alguma interação com o público, sempre bem humorado, como de praxe, afinal, Sutter é um cara que além de uma ótima performance vocal e de palco, é um humorista histórico na TV brasileira, e esta parte dispensa comentários.
Com a intro a lá apresentação do Rock in Rio, o agito começa com “Wicker Man”, provavelmente a melhor faixa de abertura de disco da banda inglesa na atual formação. Para minha surpresa, “Man on the edge” (para dar uma força para o Blaze, brincou o vocalista) do “X Factor” (1995) me pegou de jeito, pois além de ser uma faixa que funciona muito bem ao vivo (e provavelmente jamais veremos o Maiden executando-a novamente), é de um disco emblemático (para o bem ou para o mal) na carreira da banda, o que mostra de cara que o seu projeto não fica preso apenas aos clássicos da fase Bruce Dickinson, mas revisita todas as épocas e vocalistas.
Menção merecem a banda de suporte Best of the Beast. Já acompanho, por morar em região próxima, a banda há anos e é certo que a cada apresentação o grupo entrega tudo o que se espera em performance técnica, independente da formação, que inclusive mudou recentemente com a entrada de novo vocalista. No Na Mira, Sutter esteve muito bem assessorado com a banda que conta com a formação atual de Valterson Wottrich “Pimenta” nos vocais, Ricardo Dobler e Cristian Vieira nas guitarras, Lucas Dornelles “Moita” na bateria e Thiago Theobald no baixo.
Desnecessário mencionar todos os pontos altos da apresentação, destacando, novamente, o olhar que Sutter deu para músicas também da fase inicial do Maiden, como “Prowler”, “Running Free” e “Phantom of the Opera” do disco inicial da Donzela de 1980, assim como o clássico “Killers” (1981) que esteve presente com a faixa título e “Wrathchild”. Também não podemos deixar de registrar a interação entre Sutter e Alex Ximú (vocal) que novamente se encontraram num palco e enquanto Ximú comandava os microfones em algumas faixas, Sutter tocava bateria, culminando, antes da parte final, com a interação de ambos cantando juntos e com a plateia.
Para fechar, uma estreia nos palcos: Indexistt teve a missão de fechar com chave de ouro, mesmo com o avanço das horas e com parte do público tendo deixado o Clube após o show do Sutter. Infelizmente, quem escolheu ir embora perdeu uma enxurrada de músicas que provavelmente nunca ouviram, assim como eu, alguma banda da região tocar. Estou falando de músicas como “Melancholy” do Iced Earth, “If I Could Fly” do Halloween, “Accident of Birth” e “Chemical Wedding” da carreira solo do Bruce Dickinson (Iron Maiden), assim como “Carry on” (Angra) e “The Mercenary” do Iron Maiden (sim, foi uma noite de ode à Donzela).
Eu mencionei que foi a estreia do grupo, certo? Então é claro que aqui e ali houveram alguns pequenos erros, nada que comprometesse e, pelo contrário, a banda tirou de letra, contornando e executando músicas muito complexas e com grande habilidade técnica.
Aliás, habilidade técnica e escolha de um set list diferenciado foram os dois pontos destaques da Indexistt, grupo capitaneado pelos irmãos Maurício Taube (guitarra) e Rafael Taube (bateria) que recrutaram Alex Ximu para os vocais. Alex é muito experiente e uma voz muito conhecida no interior do RS, com passagens em muitas bandas (já foi vocalista da Best of the Beast) e projetos solos, e nessa noite além de ter dividido palco com Sutter, mandou muito bem em músicas que não costuma cantar ou que exigem técnicas diferentes, além das mencionadas, como em “Territory” do Sepultura, que não é definitivamente a praia, mas mandou muito bem, assim como ao cantar Slipknot, que encerrou o set.
Uma excelente estreia. Estar no palco para fechar a edição comemorativa aos 20 anos do programa não intimidou a jovem banda (que contou na apresentação com os músicos convidados João Reis no baixo e Dalton de Quadros na outra guitarra), que também apresentou a música autoral “Collide” que ficou tão boa ao vivo quanto em estúdio e merece atenção. Que venham mais shows (o grupo está gravando seu debut e pretende lançar alguns novos singles muito em breve), mais entrosamento e que a banda possa manter, além da técnica e habilidade de todos, também a ousadia de excursionar pelo Metal nas suas variadas formas e tocando sons que outros grupos não costumam tocar.
O Festival Na Mira do Rock cumpriu novamente seu papel: ser o espaço para que a música pesada encontre guarida, valorizando a cena local, mas também trazendo grupos que aproximam-se do público da região, tão carente de poder conferir shows que costumam ocorrer somente nos grandes centros. Vale a menção à organização que funcionou muito bem desde a venda dos ingressos, a entrada, com o atendimento na parte dos alimentos e bebidas (acertaram em cheio em colocar cerveja artesanal de qualidade), o local (no centro) de fácil acesso, etc.
Mais uma edição com a qualidade Fuga Produções e mais um que marquei presença na certeza de que sempre teremos uma rota para curtir excelentes shows com uma galera muito massa de Frederico e região. Até a próxima e lá estaremos novamente.
Set List
Phornax
- Intro (Smell of Death)
- Silent War
- Final Beat
- Ghosts from The Past
- Dare of Destruction
- Between Fear and Hope
- A Matter of Time
Datavenia
- Welcome to the underground – Datavenia
- Sad but true – Metallica
- We die Young – Alice in Chains
- Psychosocial – Slipknot
- Walk – Pantera
- Hate to the Bones – Datavenia
- Refuse/Resist – Sepultura
- Metal God – Datavenia
- Funeral Bell – Black Label Society
- Whiplash – Metallica
- Ace of Spades – Motorhead
- Bloodline – Slayer
- Cowboys From Hell – Pantera
Bruno Sutter executa Iron Maiden (com banda Best of the Beast)
- Intro: Arthur’s Farewell
- Wicker Man
- Man On The Edge
- The Trooper
- Wrathchild
- Flight Of Icarus
- Prowler
- Killers
- Phantom Of The Opera
- Wasted Years
- The Evil That Man Do
- Brave New World
- Wasting Love
- Running Free
- The Number
- Aces High
- The Clairvoyant
- Fear Of The Dark
- Hallowed Be Thy Name
- Run To The Hills
Indexistt
- Dio – Rainbow In The Dark
- Bruce Dickinson – Chemical Wedding
- Helloween – If I Could Fly
- Iced Earth – Melancholy
- Angra – Carry on
- Iron Maiden – The Mercenary
- Bruce Dickinson – accident of birth
- Indexistt – Collide
- Sepultura – Territory
- Slipknot – Before I Forget
Agora você confere os registros dessa noite incrível, captados pelas lentes do fotógrafo Paulo Oliveira.