Casadinha, Bruce Dickinson (homenagem à obra de Jon Lord e Deep Purple) e Helloween, unindo forças!
Por Elias Scopel Liebl
Em 2022, fui surpreendido pelo anúncio de alguns shows “solo” do vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson. Para o meu espanto, um deles seria na capital paranaense. Prontamente adquiri dois ingressos. Aliviado por ter garantido minha poltrona, acompanhei a avalanche de shows que começou a ser anunciada pelo Brasil, todos em abril, abrindo espaço para várias bandas aproveitarem a vinda para os festivais Monsters of Rock e Summer Breeze. Morando no meio oeste catarinense, acompanhar todos os shows seria praticamente inviável, até mesmo pela logística e o nascimento do meu segundo filho. Alguns dias se passaram e o grupo alemão Helloween anunciou outras datas em terras tupiniquins – por sorte, uma das datas era um dia após o show do Bruce Dickinson em Curitiba. Ótimo! Aproveitando a sequência dos resolvi degustá-los.
BRUCE DICKINSON – JON LORD’S CONCERTO FOR GROUP AND ORCHESTRA AND THE MUSIC OF DEEP PURPLE – CURITIBA-PR, 19/04/2023
Já imaginou o vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson excursionando com uma orquestra e uma banda, fazendo uma espécie de “tributo” ao falecido tecladista do Deep Purple, Jon Lord e o próprio Deep Purple? Isso aconteceu no Teatro Positivo, que estava lotado. Já na entrada revi muitos amigos (Aymore, Eloiza, Matias, Marino, Wagner, Roberta…), pessoas de idade e crianças, o espetáculo estava por vir. Após degustar uma boa cerveja da Bodebrown na parte de fora, já que no teatro não era permitido, entrei e fui para a minha poltrona. Minha esposa e meu filho Ian (6 anos) não puderam me acompanhar, então o meu amigo Marcos “Pofe” foi o felizardo a receber o meu segundo ingresso.
Depois de alguns minutos de espera, praticamente sem atraso, às 21h entram no palco toda orquestra e a banda formada por John O’Hara, tecladista do Jethro Tull, Tanya O’Callaghan, baixista do Whitesnake, o baterista Bernhard Welz e o guitarrista Kaitner Z Doka (músicos que já haviam tocado com Jon Lord), o maestro Paul Mann e o vocalista, Bruce Dickinson. Bruce fez uma breve explanação sobre a obra de Jon Lord, explicando a primeira parte do show, com seus três movimentos: Moderato – Allegro, Andante e Vivace – Presto, que nada mais são do que um show do Deep Purple de 1969, “Concerto for Group and Orchestra”, composto por Jon Lord, no qual o Deep Purple, juntamente com a The Royal Philharmonic Orchestra, fazem uma apresentação, que inclusive foi gravada – quem tiver a oportunidade assista, procure no YouTube, é imperdível.
Iniciado o show, os três primeiros atos foram executados com maestria, mostrando uma orquestra muito bem afinada, e uma banda bem segura, destaque para o maestro Paul Mann. Bruce permanecia no palco durante os movimentos, interpretando visualmente a música instrumental. O interessante é que vários momentos de suas interpretações visuais ajudavam o público a compreender o que o instrumental queria dizer, uma verdadeira aula. Após os movimentos de Jon Lord, foram dados 15 minutos de pausa, aumentando ainda mais a expectativa para o que estava por vir.
Assim que a banda volta temos a introdução de “Tears of the Dragon” e aí, meus amigos, as emoções afloram. Foi “foda”, Bruce cantando como nunca, estava simplesmente curtindo toda aquele vibe. Os arranjos orquestrais deram uma pressão sonora inacreditável. Na sequência, Bruce explica sobre o contexto da próxima canção, “Jerusalem” que foi baseada em um poema de William Blake. Ao vivo com orquestra ela fica ainda mais profunda, um verdadeiro presente aos fãs da carreira solo do Sr. Air-Raid Siren (sinal de ataque aéreo).
A homenagem ao Deep Purple iniciou com a linda “Pictures of Home”, o baterista Bernhard Welz deu as diretrizes para a música seguir o seu caminho. Na sequência, “When a Blind Man Cries” foi executada de forma impecável, impressionante como o pequeno Bruce ainda tem lenha para queimar. O cover “Hush”, que ficou conhecida pelo Purple, fez a plateia dançar, Bruce chamou o público para ficar em pé e curtir o som. Ao comentar sobre a próxima canção, todos levantam e junto com os primeiros acordes saúdam a “Perfect Strangers”, música perfeita para ser tocada ao vivo, e com orquestra a paulada acertou em cheio. Os músicos deixam o palco e o Teatro Positivo os chama de volta. A guitarra de “Burn” é inconfundível e o teatro vem abaixo, várias pessoas foram para a frente do palco curtir essa obra. Para fechar a noite mágica, não poderia faltar “Smoke on the Water”, essa é correr para o abraço, o jogo do Bruce e sua turma de palco estava ganho, não tem muito o que dizer.
Uma baita noite de quarta-feira, inesquecível. Fico imaginando se o Bruce encontrou com o pessoal do Deep Purple no Brasil, pois estavam todos aqui também. Eu acho que seria interessante os remanescentes assistirem ao que fizeram 54 anos atrás sendo interpretado por um “gigante” novamente. Ou até mesmo os caras do Helloween, será que algum foi no show? Eu não vi, mas quando chegamos em Curitiba, antes do show do Bruce, encontramos com algumas abóboras na rua, logo eu conto!
HELLOWEEN – UNITED FORCES TOUR, NÃO PODIA SER OUTRO NOME PARA A TURNÊ – CURITIBA-PR, 20/04/2023
Chegamos em Curitiba um pouco depois do almoço, um dia antes do show do Helloween, aguçados para tomar um chopp e depois seguir para o show do Bruce Dickinson. Essa foi uma viagem marcada por várias coincidências. A primeira foi quando eu e meu parceiro de shows, o Marcos, faltando apenas uma quadra para chegar no hotel, encontramos no semáforo um amigo nosso de longa data, o Pedrinho “Dente” – fizemos aquele alvoroço. Havíamos levado chimarrão para a viagem, e assim que paramos o carro na frente do hotel conversamos e tomamos um mate.
De repente, olho para o lado e vejo ninguém menos que Markus Grosskopf, baixista do Helloween. Na hora ele também olhou para nós, acenamos para ele e fomos ao seu encontro. Ele nos cumprimentou como se fossemos velhos conhecidos, de uma simpatia ímpar. Foi reto no chimarrão, olhou curioso e pediu se o que estávamos bebendo era chá. Respondi que era chimarrão, ele deu uma olhada na minha camiseta, da última turnê do Paul Di’Anno
. Do nada chega o criador de toda a cena Power Metal, um baixinho chamado Mr. Kai Hansen. “Puta merda”, pensei. Tiramos uma foto, ofereci chimarrão para o Markus, ele agradeceu e disse que iria beber cerveja (certo ele). Nos despedimos com aquela sensação estranha (boa) de achar os caras ali na rua. Havia encontrado com Markus e o Michael Weikath em 2003, mas por azar perdi o registro.
No dia seguinte fomos ao show, é sempre gratificante assistir a apresentações de bandas que marcaram de alguma forma a sua vida. Quando comecei a ouvir Helloween não imaginava assisti-los um dia. Em 1998, tive a primeira oportunidade na turnê do disco “Better Than Raw”. Foi surreal naquela idade. O que estava por vir nessa noite era uma formação inimaginável, todos as figuras centrais que já passaram pelo grupo juntas. O fato de termos Andi Deris, Michale Kiske e Kai Hansen cantando juntos é suficiente para ir a um ótimo show – e logicamente Markus Grosskopf, Michael Weikath, Sasha Gestner e Daniel Loeble são peças fundamentais para completar o time.
Pouco antes de começar a apresentação, degustamos algumas cervejas, até que “The Number of the Beast” do Iron Maiden ecoou no PA, indício de que o show estava para começar. Quando começou a introdução, “Orbit”, era hora de arregalar os olhos e aguardar o pano de frente do palco cair. De prima, as guitarras e o vocalista Kiske abrem a introdução de “Skyfall” do “novo” disco, uma canção de doze minutos. Quando Deris entra, parece que o palco fica pequeno para os sete músicos. Seguiram com a clássica “Eagle Fly Free”, música sempre executada nos shows, outra do disco “novo” “Mass Pollution”.
Não tem muito o que descrever, era clássico atrás de clássico, “Future World”, “Power”, “Save Us”, não dava tempo nem de ir ao banheiro ou buscar cerveja que já tinha outra bordoada. A banda está afiadíssima, e no palco chamava atenção o semblante, todos sempre sorridentes e brincando uns com os outros, alto astral total. Hansen assume a frente e despeja uma sequência de sons do disco Walls of Jericho, um medley contendo “Metal Invaders”, “Victim of Fate”, “Gogar” e “Ride the Sky”. Para finalizar, ainda manda na lata “Heavy Metal (Is the Law)”.
Quem costuma ir em shows sabe que quando tudo flui bem o evento passa rápido, e com o Helloween estava passando muito depressa. A dinâmica entre as músicas e o repertório escolhido possibilitava que todos integrantes tivessem seu tempo no palco, e isso faz com que o público não canse. A vez da balada chegou, e “Forever and One (Neverland)” foi executada por Kiske e Deris. Houve um pequeno problema no som, mas logo foi resolvido. Seguiram com “If I Could Fly” e posteriormente um solo de guitarra de Sasha – diga-se de passagem, um solo bem legal. “Best Time” exprime a união que atualmente o Helloween vem passando.
Mais clássicos, “Dr. Stein” e “How Many Tears”, quanta nostalgia ouvindo isso ao vivo. Para entrar na reta final os caras destruíram com “Perfect Gentleman”, a linda e prazerosa “Keeper of the Seven Keys”. Para finalizar não podia faltar “I Want Out”, e então o grupo foi apresentado individualmente, enquanto os balões de abóbora (mascote Jack) corriam solto pelo público, inclusive encontramos algumas abóboras sendo levadas para casa de moto.
Uma noite agradável, um show perfeito, com grandes músicas e músicos, todos muito animados e mostrando que estavam tocando com prazer. Mais uma aula bem-sucedida.
Gostaria de agradecer aos meus amigos aqui citados por mais uma parceria, a Live pelo ingresso, Fuga (Na Mira do Rock) e Clovis (Acesso Music). Deguste Rock, deguste Na Mira do Rock!