Jethro Tull, longevidade e sanidade – Curitiba – PR, 12/04/2024
Por Elias Scopel Liebl
A banda inglesa Jethro Tull, liderado pelo multi-instrumentista Ian Anderson, fez mais uma vez a noite curitibana valer a pena. Os shows no Teatro Positivo são sempre agradáveis, o local possui estrutura bem equipada para que o público se sinta em casa. A turnê brasileira, atualmente, intitulada “Rökflöte Tour”, já estava agendada para acontecer a um bom tempo, mas devido a pandemia acabou concretizando somente este ano.
Antes do show começar foi emitido um comunicado, pedindo para que a plateia não utilizasse celulares e câmeras durante a apresentação, alegando que os aparelhos tiram a concentração dos músicos. O pedido gerou algumas queixas do público, mas no final valeu a pena. O show começou no horário previsto, a casa estava praticamente cheia e os admiradores do grupo como sempre mostravam ser pessoas de muito bom gosto.
A largada foi dada com a clássica “My Sunday Feeling” do álbum “This Was (1968)”, confesso que estava apreensivo para ouvir a voz do Ian Anderson. O último show que assisti do Jethro Tull, em 2015, show este com ênfase na agricultura, no qual o grupo trazia um vocalista e performance de apoio para dar aquela mãozinha para o tio Ian, diga-se de passagem, são quase 77 invernos, temos que agradecer por tudo que ele fez e vem produzindo na maior lucides, apesar de um desgaste vocal. O segundo petardo foi do disco “Stand Up (1969)”, a linda “We Used to Know”, que segundo Ian Anderson, no início dos anos 70, enquanto uma banda novata chamada The Eagles abria os shows do Tull, “talvez” os novatos tenham se apropriado, ou usado, ou até quem sabe se inspirado nessa canção para cria a extraordinária “Hotel California”.
Na sequência uma das minhas favoritas, “Heavy Horses”, no telão de fundo sempre mostrando a evolução da agricultura primitiva até os atuas maquinários. Sempre achei muito interessante essa conexão da banda com a natureza e agricultura, afinal, o nome da banda é inspirado no próprio nome do criador da máquina de semear, o agricultor inglês, Sr. Jethro Tull. Mais uma do disco “Heavy Horses (1978)”, a melodiosa “Weathercock”. O show estava muito interessante, e ficou ainda melhor quando músicas mais lado B começaram a fazer parte do espetáculo, como é o caso de “Roots to Branches” e “Holly Herald”.
A primeira música executada do disco novo foi “Wolf Unchained”, no telão de fundo um lobo uivou em alto e bom som ecoando no teatro. O disco “The Zealot Gene (2022)” também teve sua vez, com a bela “Mine Is the Mountain”, aliás, a turnê cancelada pela pandemia seria para promover esse disco. Na sequência a interpretação de “Bourée” do Johann Sebastian Bach. Após alguns minutos de pausa para recuperar o folego, o set continuou com “Farm on the Freeway”, do disco “Crest of a Knave (1987)”, disco este que levou o Grammy de melhor performance de Hard Rock/Metal, superando na época o Metallica, e isso causou vários questionamentos.
“The Navigators” uma das minhas preferidas do último disco, foi executada com maestria, destaque para o virtuoso guitarrista Joe Parrish. Um detalhe interessante, primeira vez que eu assisto um show do Jethro Tull, onde Ian Anderson não toca em momento algum instrumento de corda, tudo foi executado na guitarra de Parrish. Para os fãs que estavam esperando um show somente com clássicos, provavelmente não ficaram satisfeitos, a instrumental “Warm Sporran” do disco “Stormwatch (1979)” foi apresentada de forma esplendida.
Mais uma do disco “The Zealot Gene”, a belíssima “Mrs Tibbets”, com o telão mostrando imagens para refletirmos, o assunto em questão é sobre o piloto que soltou a primeira bomba nuclear e suas consequências. O show estava entrando na reta final quando para minha surpresa a música “Dark Ages” foi anunciada, com quase dez minutos de duração, fizeram uma baita versão, com Parrish ajudando nos vocais, Scott Hammond destruindo tudo na bateria, um verdadeiro monstro, sem mencionar no tecladista John O’Hara que já acompanha Ian por algum tempo (o mesmo que acompanhou Bruce Dickinson no tributo ao John Lord, neste mesmo teatro).
E para finalizar com chave de ouro não poderia faltar as clássicas “Aqualung” e “Locomotive Breath”, que contaram com um pequeno apoio do baixista David Goodier no vocal, mas antes eles fizeram uma espécie de brincadeira chamada “Aquadiddley”, passando por várias harmonias dentro das melodias de “Aqualung”. Na última música “Locomotive Breath”, no telão apareceu uma imagem que estava liberado o uso dos celulares para filmar e fotografar. O show termina com os músicos do Jethro Tull se apresentando enquanto seus nomes eram anunciados com suas fotos no telão, a equipe técnica também teve seus créditos, tudo isso ao som mecânico de “Cheerio”, do álbum “The Broadsword and the Beast (1982)”.
Uma noite agradável, um show muito bem executado, com grandes músicas e ótimos músicos. Como eu sempre digo, “mais uma aula bem-sucedida”, provando que o celular as vezes é desnecessário. Só tenho a agradecer por mais um show dessa incrível e longínqua banda, obrigado Ian Anderson! Gostaria de agradecer aos meus amigos mais uma vez pela parceria, Fuga (Na Mira do Rock), Clovis (Acesso Music) e ao Gustavo. Deguste Rock, Deguste Jethro Tull, Deguste Na Mira do Rock!