IRON MAIDEN: A INESPERADA E COMOVENTE DESPEDIDA DO LENDÁRIO BATERISTA NICKO MCBRAIN – SP
Por Elias Scopel Liebl
Lá vamos nós sentido a São Paulo para prestigiar novamente os veteranos do Iron Maiden no Allianz Parque, na última perna da turnê “The Future Past”. Por coincidência os dois últimos shows da turnê e com ingressos esgotados. O show no dia 06 de dezembro coincide com a data de quando assisti eles pela primeira vez, em 1998, no penúltimo show do ex-vocalista Blaze Bayley. Para todo Maiden Maniac, essas coincidências são sempre marcantes. Antes do Maiden iniciar a turnê, o baterista Nicko McBrain sofreu um pequeno AVC, comprometendo sua performance ao vivo; em nota, pediu desculpas aos fãs. Não que precisasse! Pé na estrada: eu e meus amigos, Chico e Rodrigo, saímos do meio-oeste catarinense por volta das três horas da madrugada, rumo ao aeroporto de Curitiba, seguindo com destino a São Paulo. Durante a viagem, muito bate-papo sobre shows, relatos, curiosidades e divagações sobre o futuro do Maiden (risos). Assim que desembarcamos no aeroporto em São Paulo, a jornada de fato estava iniciada, um chopezinho para relaxar e vamos para o Allianz.
Então, no dia 06, o penúltimo show da turnê, entramos no evento relativamente cedo, duas horas antes dos dinamarqueses do Volbeat iniciarem seu show de abertura. Apesar do Volbeat ser muito famoso na Europa, aqui no Brasil tiveram que se esforçar bastante para cativar os fãs do Maiden, e conseguiram. Acabando o show de abertura, alguns minutos para retirada dos equipamentos do palco e aquela última checada, e aí sim, inicia “Doctor Doctor”, do UFO, que leva todo mundo no estádio ao delírio. Na sequência, a trilha sonora do filme “Blade Runner” para entrar no clima do disco “Somewhere in Time”. Ecoa a introdução da belíssima “Caught Somewhere in Time”, alguns segundos de gravação até o mestre Nicko sentar o braço na caixa e explodir tudo. A palavra que tenho para descrever essa música ao vivo é: perfeição! Assistir mais uma vez esses seis elementos — Nicko, Bruce, Steve, Dave, Adrian e Janick — é muito empolgante, ainda mais executando músicas que há décadas estavam estacionadas. Vale ressaltar que todos os membros já são quase setentões, com exceção de Nicko, 72 anos.
Dando sequência, “Stranger in a Strange Land”, para delírio de todos. Ao vivo, é voltar direto para minha adolescência. Simplesmente mágico! Ainda tivemos uma pequena aparição do mascote Eddie. Posso destacar que essa turnê teve como um dos protagonistas Adrian Smith, dando um show à parte, sem jamais tirar o mérito dos outros integrantes. Seguindo o repertório, vem a trinca do último álbum “Senjutsu”: “The Writing on the Wall”, que para muitos já virou um clássico, “Days of Future Past” e “The Time Machine”, ambas executadas de forma fenomenal, mas com menos carisma que o resto do set.
Chega a vez da canção “The Prisoner”. Aqui, Nicko fez tudo valer a pena quando executou a levada do saudoso Clive Burr, estremecendo o estádio. Que refrão lindo de ouvir! Essa trouxe muita emoção. “Death of the Celts”, uma das minhas preferidas do último registro de estúdio da banda, caiu muito bem ao vivo. Antes de iniciar, Bruce falou um pouco sobre ela, explicando sobre a tentativa de extinguir o povo celta por acreditarem em vida após a morte. Também mencionou, é claro, Janick, o frequentador assíduo dos pubs irlandeses.
“Can I Play With Madness” sempre cai bem no setlist. “Heaven Can Wait”, já consagrada pelos fãs, teve a presença do mascote Eddie, travando uma batalha com Bruce Dickinson. Para muitos, o ápice do show foi a tão esperada “Alexander The Great”, uma obra que relata a trajetória de Alexandre, o Grande, Rei da Macedônia. De fato, um dos pontos altos do show. “Fear of the Dark”, que para muitos é tida como maçante, prova que ao vivo é indispensável. Sua energia é contagiante. A música “Iron Maiden” vem a galope. A mais executada da história da banda, frenética, cai perfeitamente para Eddie e Janick travarem uma batalha engraçada no palco, tirando o foco de um pequeno deslize de Bruce no tempo da música.
Após uma pequena pausa, o grupo segue com os bis: “Hell on Earth”, com seus 11 minutos, deu um suador nos músicos. Bruce se esforçou ao máximo para aguentar o tranco. Lembrando que Bruce já passou por um câncer na garganta, é um guerreiro. Nicko se adaptou como podia para simplificar o que havia criado alguns anos antes, e Janick tentou se encontrar no tempo. Essa é a magia de tocar ao vivo. No final, deu tudo certo e a música funcionou muito bem. Figurinha marcada, “The Trooper” teve que ser reajustada para a atual situação de Nicko. Longe de ficar ruim, Nicko se adaptou como um camaleão. Para finalizar, “Wasted Years”, com um refrão caloroso e trazendo uma mensagem simples e curta: “viva o presente momento”.
O show se encerra com milhares de fãs agradecendo nossos guerreiros, que, apesar da idade e de alguns problemas de saúde, ainda assim fizeram um show excelente. Destaque para Adrian Smith, que executou seus solos com muita maestria; Bruce Dickinson, por ainda cantar tudo no tom original; Nicko McBrain, por todo seu esforço e luta para estar em uma turnê mundial depois de seus problemas de saúde; e Janick Gers, que não sossega um segundo — não sei como aguenta, é um verdadeiro esportista showman. Steve Harris e Dave Murray, me desculpem, dispensam comentários: são 100% Iron Maiden. Bruce agradece e avisa que, num futuro próximo, voltarão para o Brasil com uma nova turnê chamada “Run For Your Lives World Tour”, animando todos que tinham a ideia de que o Maiden poderia estar encerrando as atividades.
Vamos descansar, que amanhã tem mais Maiden. Sábado de manhã, vou tomar meu café e recebo uma mensagem no grupo do show dizendo que hoje seria o último show do Nicko McBrain no Iron Maiden. Sabe aquela sensação que mistura felicidade e tristeza? Mais tristeza do que felicidade. A única felicidade no momento era que, naquela noite, eu estaria no último show de um dos bateristas mais icônicos e que mais admiro no mundo. Além de todo o legado deixado por ele, é claro. Não sei por que isso me pegou de surpresa, pois já havia indícios de que ele não estava 100%. Tendo em vista a sua idade, era esperado que num futuro próximo isso aconteceria. Porém, para todo fã abobado igual a mim, isso pega em cheio.
Passou a tarde, fomos ao show. O repertório foi o mesmo, os músicos estavam mais soltos e aparentemente tocando melhor do que o dia anterior, Bruce fez algumas falas despedindo-se do amigo Nicko. O espetáculo teve um certo ar de melancolia, mas, no fundo, havia muita alegria e celebração por tudo que essa mega banda proporcionou ao longo dos anos para milhares de pessoas: um legado que jamais será apagado e permanecerá para sempre em nossas vidas. Tudo isso porque o baterista estava precisando pegar sua aposentadoria. Sim, ele precisa, e nada mais justo após 42 anos a serviço do Maiden. Nós, fãs, exigimos demais e não sabemos os limites da finitude quando se trata de paixão por algo. Só temos a agradecer e desejar que nosso Nicko siga sua vida da melhor forma possível, assim como o Iron Maiden. Agradecimento especial aos meus amigos de show: Chiquinho, Marlon, Rodrigo, Wagner, Marino e turma da Bodebrown.
Deguste Rock, na Mira do Rock! e Up the Irons!
As duas primeiras fotos foram tiradas por Rodrigo, e as outras por Elias.