Rammstein – Zeit
Por Leandro Duarte
No dia 29 de abril, um dia após o aniversário deste que vos escreve, saiu Zeit, o oitavo trabalho de estúdio de uma das bandas alemãs de maior sucesso da história: Rammstein. Há quem chame a banda de metal industrial, outros de Neue Deutsche Härte (algo como Nova Dureza Alemã, em tradução livre). Mas o fato é que o Rammstein é uma banda muito difícil de ser classificada. E, penso eu, que é melhor deixarmos os rótulos para as embalagens de remédios e demais produtos.
O novo trabalho saiu inesperadamente, em um intervalo de menos de três anos em relação ao disco autointitulado de 2019. A impressão que se tem é que a banda aproveitou a pandemia de Covid-19, e suas limitações de se mover ao redor do mundo, e usou esse tempo de bloqueio para gravar um novo álbum.
Armee der Tristen é a primeira música do disco e vem com uma combinação de sintetizadores incrível, além de um conjunto de riffs bastante sedutores ao longo da faixa. As melodias vibrantes e edificantes da faixa contrastam com a tradução do título da música: Exército dos Tristes.
Em seguida temos Zeit, a faixa que dá nome ao disco, que é uma música triste sobre o eterno problema de ficar saturado pelo tempo, que corre mais rápido que a vida humana. A música também toca na inevitabilidade de eventos que acontecem na vida das pessoas. Ela segue um caminho mais solene e melancólico, utilizando emotivos segmentos de piano que lhe dão um atraente toque cinematográfico. Os elementos de guitarra minimalistas e fervilhantes realmente ajudam a amplificar a atmosfera que está sendo construída. No videoclipe, Moiras, as deusas do destino, estão presentes: uma dá o fio do início da vida, a segunda determina seu significado e a terceira decide quando cortá-la. Uma vida humana pode ser interrompida tanto em uma guerra, ou no meio de um dia pacífico. Não importa a idade ou o momento da vida da pessoa.
Zick Zack é uma ironia aos padrões de beleza modernos: silicone, botox, cirurgia plástica. Uma verdadeira zombaria aos vícios da sociedade e crescente fascínio por aprimoramentos cosméticos. Essa música, com riffs viciantes, soa brincalhona e divertida do começo ao fim, e é candidata a ser um sucesso nos shows ao vivo. Um divertidíssimo videoclipe foi lançado para a música.
A carnavalesca Dicke Titten apresenta um ar um tanto jovial em cima do elogio não-sexualizado da música aos seios grandes. Nela, o eu-lírico relata ter vivido sozinho por muitos anos e lamenta a falta de uma companheira. Assim, ele diz que não exige muito da candidata à esposa: apenas seios fartos.
OK condena o sexo desprotegido – literalmente significa Ohne Kondom ou “Sem um preservativo.” Sonoramente, há uma melodia deliciosa no estilo synthpop, alguns riffs distorcidos sensuais e momentos estrondosos. A parte final desta faixa é um dos trechos mais furiosos de todo o álbum, completo com coro e arranjos orquestrais. É mais épica do que tem o direito de ser.
Meine Tränen é uma balada lenta e triste que foca no tema do abuso parental. O ritmo constante e o toque mais acústico em algumas partes criam uma verdadeira atmosfera melancólica, que é contrastada por um refrão estrondoso e surpreendentemente emocional. A estrutura da música é provavelmente a mais direta de todo o disco, mas é linda em sua simplicidade.
Angst, por outro lado, tem uma sensação tribal sombria. Esta é de longe a faixa mais brutal do álbum, com uma apresentação bastante crua. Seu ambiente assustador e atmosfera de mau presságio lembram um pouco Mein Teil, do disco Reise, Reise (2004). Angst aborda o antigo monstro fictício, o bicho-papão, que é conhecido como Schwarze Mann (O Homem Negro) em outras representações culturais ao redor do mundo, incluindo o folclore germânico. Angst é uma denúncia da xenofobia, racismo e isolamento da nossa sociedade.
Instrumentalmente, Lügen é fantástica. Começando de uma forma minimalista e reflexiva que atrai o ouvinte para depois explodir em riffs que causam arrepios. Infelizmente, o uso do autotune atrapalha completamente a faixa. Com a música chamada de Mentiras, pode-se entender a ironia do uso de uma voz metalizada.
A sentimental Adieu é uma faixa que pode levar o ouvinte às lagrimas, ainda que tenha uma atmosfera surpreendentemente edificante. Ele segue um caminho muito mais pesado do que se poderia esperar, tendo todo o apelo de uma música de rock de estádio, com todos os sinos e assobios industriais de um show do Rammstein. Apesar da letra ter todas as características de um triste adeus, ela convida o ouvinte a pensar que, mesmo que tudo tenha acabado, o que aconteceu nos faz sentir, acima de tudo, agradecidos. E assim o disco termina com um estrondo, ao invés de choros e gemidos.
O álbum “Zeit” também aponta a despedida para talvez a maior banda alemã de todos os tempos. As declarações dos integrantes já haviam apontado isso durante seu último lançamento. Será?
Rammstein – Zeit (2022)
- Armee der Tristen
- Zeit
- Schwarz
- Giftig
- Zick Zack
- OK
- Meine Tränen
- Angst
- Dicke Titten
- Lügen
- Adieu
6 comentários
Várias faixas muito boas. Mas Lugen é fantástica.
Top os comentários meu amigo Leandro. Pessoas como vc que ajudam mantém a cultura Rock para está a nova geração.
Muito obrigado Reinaldo! É um prazer saber que você gostou do texto! Grande abraço!
Top os comentários meu Amigo Leandro. Parabéns por ajudar a divulgar o velho e bom Rock a essa nova geração.
Era o Site que queira.
Estou muito felis de saber que a caminhada foi de sucesso.
Parabéns, na mira do Rock ja era legal e agora ainda mais.
Obrigado a todos e um salve especial pro FUGA que é parceria rara
A clareza em sua descrição, deixa em nós o desejo, de continuar a ouvir o disco sem parar, repetidas vezes. Show o comentário.